sexta-feira, 23 de outubro de 2015

O talismã dentro de nós


     Cresci ouvindo minha mãe cantar e acreditar no que diz a canção: sorte tem, quem acredita nela. Não sei se foi uma lavagem cerebral, mas passei a crer nestas palavras.
Importunam-me pessoas queixosas da vida e da falta de sorte. Quem pensa positivo, enxerga a vida sob outro prisma, tem um olhar mais leve, adquire menos ruga, não tem aqueles feios vincos na testa. Afinal somente são permitidas as linhas de expressão formadas ao lado dos lábios que marcam o excesso de sorrisos e de gargalhadas.
     Tudo bem, não precisa carregar amuleto, ficar desesperado para encontrar um trevo de quatro folhas, mas confiar em dias melhores ajuda bastante a caminhar pela vida, assim penso e assim faço.
     Sortudo é quem se vê desta forma. Afinal de momentos bons e nem tanto todos vivem. Ninguém é perfeito, ninguém tem vida perfeita. O comercial de margarina só existe na tela da televisão! E aquela história da grama do vizinho é mais verde do que a minha, não faz sentido. A maldita síndrome de pensar que os outros vivem melhor, são mais felizes ou tem mais sorte que a gente, acompanha muitas pessoas. Nada disto, se espiarem um pouquinho mais a vida do outro, poderão certificar-se de que não é bem assim. Pura ilusão!
Se a vida não vai bem, tenta outro caminho, refaz a trajetória e segue em frente, reclamar de falta de sorte é atitude comodista.

     Desejo que todos saibam carregar um talismã dentro de si e, assim, a sorte nos acompanhará sempre!

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

SOBRE O MAR

     
     Uma das minhas maiores motivações para escolher Rio Grande como morada foi a existência do mar. Esqueci do frio do nosso estado, desconhecia tanta umidade, tanto mofo, tanto vento quando vim parar por aqui. Mas, apesar de todos os pesares, dos tantos desagradáveis (umidade, mofo e vento) e do cinza característico rio-grandino, há o mar!       Sim, Rio Grande tem mar, tem a maior praia do mundo.
      Estive em Rio Grande na infância, na companhia de meus pais e irmãos. Fazia muito tempo, quando retornei, nem me lembrava mais... Voltei à cidade para prestar concurso para a FURG e confesso não ter gostado do lugar. Fiquei hospedada no centro, onde tudo me pareceu triste, antigo e sujo. Questionei se queria mesmo viver aqui, até conhecer o Cassino, no último dia do concurso. Foi quando decidi: quero morar neste lugar! As árvores da Avenida Rio Grande e o mar me encantaram.
     No primeiro ano de vida no Cassino (agora já são cinco), caminhava todos os dias para saudar o mar. Depois fui me acostumando à presença da imensidão azul e agora não a contemplo todos os dias, mas a certeza de sua proximidade me faz bem, me consola. E sei: posso olhar o mar, ele está logo ali. E sei também o quanto olhar o mar me tranquiliza, me faz sentir em paz. As ondas carregam lamentos, angústias. Parece que aquele movimento das ondas pode curar qualquer dor. Diante do mar, grandioso e onipotente, sinto minha pequenez, me energizo, me fortaleço. Com o tempo descobri: contemplar o mar é minha forma de oração.
     O Cassino é um lugar de encanto, de magia: da calmaria do inverno à agitação do verão, tudo me agrada, tudo tem sua beleza. Claro, continuo a reclamar da umidade, do mofo, do vento, no entanto tudo é pequeno, diante da beleza grandiosa do mar e das árvores da avenida Rio Grande. Os cassineiros, de modo geral, gostam mesmo é do final do verão, quando os turistas invasores do espaço, egoisticamente considerado como todo nosso, voltam para as suas cidades de origem. E os moradores do Cassino respiram aliviados. E eu, faço parte do grupo de exceção, que aprecia tanto a presença dos turistas, como também a sua partida.
     Postei no facebook uma foto do mar acompanhada da frase: “O que acalma não é água com açúcar, é água salgada”, e uma amiga sugeriu a escrita deste texto: espero que os rio-grandinos, leitores deste espaço e os que, como eu, adotaram esta cidade, se identifiquem com esta declaração de amor ao mar e ao Cassino.


sábado, 2 de maio de 2015

Professores apanham na pátria educadora!

     
     Sou professora e me dói a forma como o governador do Paraná e a polícia, sob o seu comando, têm tratado os meus colegas, me doeria também se fosse com qualquer outro brasileiro que trabalha de forma digna e honesta. O que está ocorrendo no Paraná é uma enorme falta de respeito, uma afronta ao cidadão de bem, ao povo trabalhador que reivindica, de modo civilizado e justo, por melhoria salarial, por melhores condições de trabalho e de vida. Reitero não me comove somente por ser professora, com outra categoria sofreria também, no entanto não nego que a representação torna minha indignação ainda maior e provoca a escrita deste texto que redigo como porta-voz de uma categoria cada vez mais maltratada, mais desacreditada, mais desvalorizada no país que se diz pátria educadora.
   Atuo na formação docente há quase vinte anos e cada vez se torna mais difícil sensibilizar o futuro professor de que a situação profissional vai melhorar, tenho dito e repetido isto e devo admitir que minha utopia, meu otimismo tomaram conta de mim, percebo minha ingenuidade e perco as forças. Devo considerar que iludi, meus estimados aprendizes de professores, peço-lhes desculpas. Sempre disse que vale a pena ser professor, que a realidade iria mudar, em salas de aula, em mesas redondas, em palestras. Sim, sempre acreditei, não estava falseando, enganando, ludibriando ninguém, talvez a mim mesma.
     Os anos têm se passado e nada muda, a realidade do professor só tem piorado em nosso país, os problemas se agravam, o salário permanece baixo, aliás está quase vez mais defasado... A presidente anuncia que em seu novo mandato a educação será a prioridade, a partir de então viveremos na pátria educadora. Eu, novamente iludida e ingênua, acredito! Como pode em uma pátria educadora o professor ser tratado de forma tão violenta?
     Escrevo este texto, com uma enorme tristeza e um pedido de desculpas pela ilusão transmitida a tantos futuros docentes neste meu tempo de professora em curso de licenciatura. O pior é que finalizo ainda otimista, ainda ingênua, ainda iludida, deve ser este sangue brasileiro que me corre nas veias e não me deixa desistir. Sim, reconheço: sou Maria, aquela mesma descrita na canção do Milton Nascimento.


sábado, 21 de fevereiro de 2015

Por um mundo feminino colorido e nada de tons de cinza

      Com tanto livro erótico bom no mercado, não entendo a fissura feminina pelo Cinquenta tons de cinza. Preocupa-me não só a qualidade estética, mas, principalmente, o modelo de mulher presente na obra.
   Lamentável que Anastácia, submissa, insegura, com a autoestima baixíssima seja modelo para mulheres do século XXI. Beira a infantilidade, a inocência, a ingenuidade comover-se com algo tão inverossímil quanto à história de uma virgem com mais de vinte anos, que aceita, após ver um quarto repleto de objetos de sadomasoquismo, encarar o sexo com o homem dominador. Qualquer mulher virgem em sã consciência, ao ver o quarto descrito na obra, sairia correndo no mundo real! A ficção não pode ser assim inverossímil. E mais a virgem tem orgasmo na primeira relação. Orgasmo feminino em uma primeira transa é muito irreal!
     A personagem aceita assinar contrato para transar e para assumir o papel de submissa. Que tipo de relação é esta? Uma relação centrada no masculino, ignorando o feminino. Trata-se de uma obra machista. Assusta-me o fato de que tenha sido escrita por uma mulher e ter despertado o gosto feminino e é esta indignação que estimula a escritura deste texto.
     Aprecio ficção de qualidade, inclusive erótica. Se as mulheres querem ler algo excitante, registro nome de algumas autoras: Anais Nin, Almudena Grandes, Marguerite Duras, Hilda Hist, Tatiana Levy. Recomendo alguns filmes eróticos também, já que agora os Tons estão nas telas de cinema, meninas se excitem de verdade com: Último tango em Paris, O amante, Intimidade, As idades de Lulu.
   Modelo de mulher podem ser Simone de Beauvoir ou Dercy Gonçalves, para dar exemplos bastante diferentes em tempo e espaço. Mulheres que lutaram por seu lugar no mundo, não se deixaram dominar, sujeitos de sua história, não objetos.

     Desejo que o mundo feminino seja muito colorido, com sexo de verdade e sem papéis definidos. Deixem os tons de cinza para a obra com a mulher escondida atrás do belo vulto masculino. Nós não precisamos nos esconder, somos capazes de caminhar, não precisamos de amparo, precisamos de espaço, de sexo igualitário e nada de submissão! 

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Sobre laços, avós, Invitro e emoções



      Sentou-se do meu lado no ônibus (sim, porque ônibus pode ser um bom local para observar os demais e escrever algo, o que é imprescindível para os escritores: o bisbilhotar a vida alheia, sem ser no Big Brother ok!)uma avó que trazia em seu colo uma neta, de uns cinco anos, da avó não importa a idade, mas o papel de avó.
    Hoje um calor fora dos padrões ventosos rio-grandinos, absurdamente calor e a avô a enlaçar os cabelos cacheados, negros e longos da menina que estavam em rabicó. A maneira como a avó formou um coque na menina me fez lembrar de minha avó: a delicadeza, a habilidade, o carinho, o gesto todo, a preocupação em refrescar o pescoço da menina. E como esta semana tô vivendo um momento cheio de emoções (porque não é só o rei Roberto que as têm) me invadiu uma saudade gigante da minha vó Olga. E conclui que na vida a gente recebe (por sorte!) amor de muita gente: filho, mãe, pai, marido, irmão, amigo, mas nada é ou será parecido ao amor de uma vó!
    E aí lembrei do meu vestido de noiva, que outro dia espiei encantada com o bordado a mão da minha vó na barra (que é muito ampla e as pérolas são minúsculas), ninguém no mundo, a não ser uma avó o faria. Claro as bordadeiras, as costureiras recebem, e muito, para fazê-lo. Minha vó, pelo contrário, pagou os tecidos e o feitio como presente de casamento à neta. E segundo ela, nunca viveu um dia de tanta angústia, passou todo o casamento atrás de mim: a arrumar o vestido e verificar os botões. Prometeu a si mesma que este seria o único vestido de noiva que faria (e foi mesmo!).
    E segui no ônibus pensando na proximidade do lançamento do Vitrais – contos do Invitro e daí a palavra lançamento me fez lembrar de laço este que nunca me desune da minha vó e que não tinha no meu vestido de noiva. Minha avó, a quem ouço quando estou cozinhando, e sigo o que ela manda, coloco os temperos enumerados, sei que pode parecer uma coisa maluca, mas é também um tanto linda e me passa de vez em quando, fruto do amor e do laço! E penso que minha avó já não estava neste mundo na noite fria erechinense do lançamento do Aroma Hortelã, mas tenho certeza que estava em algum cantinho a espiar. Ou seria do alto? E aí tem este outro livro chegando e pode parecer besteira a emoção, afinal já lancei livro individual, mas tem a história do laço que me enlaça ao grupo do Invitro, gente unida por identificação, carinho, vontade de fazer literatura, de fazer diferença, de contar algo, de emocionar, de criar um novo mundo, de transformar Rio Grande, de dominar o mundo, sei lá! Pra que mesmo que a gente escreve? Acho que a gente escreve para tentar sobreviver a um mundo que a gente não entende.
    Lembro quando voltei da primeira reunião do Invitro e disse pro meu marido (que notou minha alegria e ficou feliz comigo) que tinha encontrado uma turma de malucos como eu, porque acredito que escritor é mesmo este ser incompreendido. E agora aguardo a feira no sábado e sei que minha vó estará por lá como alguém que sempre acreditou em tudo, até nas minhas maluquices, porque também acredito que escritor é maluco!
     E que os laços sigam a nos unir e se fortaleçam cada vez mais, Invitrados lindos, e que as pessoas nos leiam nos Vitrais e se tomem pelo mesmo encantamento que nos enlaça à literatura e ao nosso mundo ficcional!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Zero na redação do ENEM: a culpa é de quem?



         Sempre que ocorre um resultado negativo em exames e seleções tem que haver um culpado. No caso do número assustador de candidatos que zeraram a redação no ENEM, todos apontam o dedo indicador e fazem cara feia para o professor de Língua Portuguesa. Ouso perguntar com todo respeito: em que idioma se comunicam os professores das demais disciplinas escolares com os estudantes?
       A responsabilidade com o ensino da linguagem não é apenas do professor de língua portuguesa e/ou redação, todos os docentes devem trabalhar com leitura e interpretação. A compreensão de um problema matemático é mais importante que o seu cálculo, já que somente entendendo o que está sendo perguntado o estudante será capaz de selecionar o cálculo a ser feito para obter o resultado correto.
       O estímulo à leitura de jornais, revistas, livros é tarefa de todo docente. O professor, seja ele de geografia, história, sociologia, filosofia, física, química, biologia, literatura não poderá ministrar suas aulas e aprofundar discussões oportunas com um grupo alienado e desatualizado.
       Mais fácil e cômodo é encontrar um único culpado, do que pensar sobre a realidade educacional de nosso país. O resultado dos zeros do ENEM se deve a um sistema que não investe em educação! A escola pública está deficitária e não é de hoje, mas a escola privada também não caminha bem. Os estudantes não encontram sentido na escola, não percebem a escola como um meio de melhoria de vida, muitos, infelizmente, estão ali apenas para receber a bolsa família! Na escola privada estão ali, mas também não sabem muito bem o que fazem naquele espaço que transformou-se em, tão somente, um ambiente de convívio social
      A responsabilidade familiar na formação do sujeito leitor e no incentivo aos estudos é primordial, porém cabe as escolas buscar a parceira com as famílias, a fim de que os pais entendam e auxiliem na constituição de um verdadeiro projeto educacional.
     O estímulo à leitura, apontado anteriormente, pode ser o começo do problema: será que o professor é um sujeito leitor? Será capaz de incentivar a leitura, alguém que não lê? A formação profissional de nossos educadores é deficitária e percebo tal realidade como professora que atua na formação de docentes há vinte anos. Infelizmente a profissão de professor é desvalorizada, mal paga, não tem status, os universitários que buscam os cursos de licenciatura, em sua maioria, são sujeitos sem vocação para o magistério e desqualificados para ingressar em outro curso superior. Claro, há exceções e por isto permaneço acreditando na educação!
      Enquanto não houver uma melhoria na remuneração dos docentes em todos os níveis de ensino na rede pública e privada a realidade não mudará. Enquanto não houver investimento em formação continuada, nada mudará. Parece haver uma luz no fim do túnel com o Pacto Ensino Médio, mas ainda é um pedacinho do que deve ser realizado como projeto educacional.
      O poder público deve repensar urgente o papel da educação na sociedade, não só para a redução dos zeros na educação, mas para a formação de um povo educado e ético!