Sempre que ocorre um resultado negativo em exames e seleções tem
que haver um culpado. No caso do número assustador de candidatos que
zeraram a redação no ENEM, todos apontam o dedo indicador e fazem
cara feia para o professor de Língua Portuguesa. Ouso perguntar com
todo respeito: em que idioma se comunicam os professores das demais
disciplinas escolares com os estudantes?
A responsabilidade com o ensino da linguagem não é apenas do
professor de língua portuguesa e/ou redação, todos os docentes
devem trabalhar com leitura e interpretação. A compreensão de um
problema matemático é mais importante que o seu cálculo, já que
somente entendendo o que está sendo perguntado o estudante será
capaz de selecionar o cálculo a ser feito para obter o resultado
correto.
O estímulo à leitura de jornais, revistas, livros é tarefa de
todo docente. O professor, seja ele de geografia, história,
sociologia, filosofia, física, química, biologia, literatura não
poderá ministrar suas aulas e aprofundar discussões oportunas com
um grupo alienado e desatualizado.
Mais fácil e cômodo é encontrar um único culpado, do que pensar
sobre a realidade educacional de nosso país. O resultado dos zeros
do ENEM se deve a um sistema que não investe em educação! A escola
pública está deficitária e não é de hoje, mas a escola privada
também não caminha bem. Os estudantes não encontram sentido na
escola, não percebem a escola como um meio de melhoria de vida,
muitos, infelizmente, estão ali apenas para receber a bolsa família!
Na escola privada estão ali, mas também não sabem muito bem o que
fazem naquele espaço que transformou-se em, tão somente, um
ambiente de convívio social
A responsabilidade familiar na formação do sujeito leitor e no
incentivo aos estudos é primordial, porém cabe as escolas buscar a
parceira com as famílias, a fim de que os pais entendam e auxiliem
na constituição de um verdadeiro projeto educacional.
O estímulo à leitura, apontado anteriormente, pode ser o começo
do problema: será que o professor é um sujeito leitor? Será capaz
de incentivar a leitura, alguém que não lê? A formação
profissional de nossos educadores é deficitária e percebo tal
realidade como professora que atua na formação de docentes há
vinte anos. Infelizmente a profissão de professor é desvalorizada,
mal paga, não tem status, os universitários que buscam os cursos de
licenciatura, em sua maioria, são sujeitos sem vocação para o
magistério e desqualificados para ingressar em outro curso superior.
Claro, há exceções e por isto permaneço acreditando na educação!
Enquanto não houver uma melhoria na remuneração dos docentes em
todos os níveis de ensino na rede pública e privada a realidade não
mudará. Enquanto não houver investimento em formação continuada,
nada mudará. Parece haver uma luz no fim do túnel com o Pacto
Ensino Médio, mas ainda é um pedacinho do que deve ser realizado
como projeto educacional.
O poder público deve repensar urgente o papel da educação na
sociedade, não só para a redução dos zeros na educação, mas
para a formação de um povo educado e ético!
Nenhum comentário:
Postar um comentário