sábado, 21 de fevereiro de 2015

Por um mundo feminino colorido e nada de tons de cinza

      Com tanto livro erótico bom no mercado, não entendo a fissura feminina pelo Cinquenta tons de cinza. Preocupa-me não só a qualidade estética, mas, principalmente, o modelo de mulher presente na obra.
   Lamentável que Anastácia, submissa, insegura, com a autoestima baixíssima seja modelo para mulheres do século XXI. Beira a infantilidade, a inocência, a ingenuidade comover-se com algo tão inverossímil quanto à história de uma virgem com mais de vinte anos, que aceita, após ver um quarto repleto de objetos de sadomasoquismo, encarar o sexo com o homem dominador. Qualquer mulher virgem em sã consciência, ao ver o quarto descrito na obra, sairia correndo no mundo real! A ficção não pode ser assim inverossímil. E mais a virgem tem orgasmo na primeira relação. Orgasmo feminino em uma primeira transa é muito irreal!
     A personagem aceita assinar contrato para transar e para assumir o papel de submissa. Que tipo de relação é esta? Uma relação centrada no masculino, ignorando o feminino. Trata-se de uma obra machista. Assusta-me o fato de que tenha sido escrita por uma mulher e ter despertado o gosto feminino e é esta indignação que estimula a escritura deste texto.
     Aprecio ficção de qualidade, inclusive erótica. Se as mulheres querem ler algo excitante, registro nome de algumas autoras: Anais Nin, Almudena Grandes, Marguerite Duras, Hilda Hist, Tatiana Levy. Recomendo alguns filmes eróticos também, já que agora os Tons estão nas telas de cinema, meninas se excitem de verdade com: Último tango em Paris, O amante, Intimidade, As idades de Lulu.
   Modelo de mulher podem ser Simone de Beauvoir ou Dercy Gonçalves, para dar exemplos bastante diferentes em tempo e espaço. Mulheres que lutaram por seu lugar no mundo, não se deixaram dominar, sujeitos de sua história, não objetos.

     Desejo que o mundo feminino seja muito colorido, com sexo de verdade e sem papéis definidos. Deixem os tons de cinza para a obra com a mulher escondida atrás do belo vulto masculino. Nós não precisamos nos esconder, somos capazes de caminhar, não precisamos de amparo, precisamos de espaço, de sexo igualitário e nada de submissão! 

6 comentários:

  1. Excelente analise. Importante uma escritora que escreve sobre erotismo tambem se posicione sobre esse tema. Parabens, Jo.

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    1. Muito obrigada, Adriane, pela leitura e pelo comentário. Um abração

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  2. Parabéns pela crônica. Faltava-nos sua opinião sempre tão sensata.
    Fico preocupada com a promoção e com o sucesso, sobretudo entre as mulheres, de mentes tão doentias como a de Anastácia e a de Cristian Grey.

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    1. Muito obrigada, Tainara! Fico feliz que tenhas gostado da crônica, bjs

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