Com tanto livro erótico bom no
mercado, não entendo a fissura feminina pelo Cinquenta
tons de cinza.
Preocupa-me não só a qualidade estética, mas, principalmente, o
modelo de mulher presente na obra.
Lamentável que Anastácia, submissa,
insegura, com a autoestima baixíssima seja modelo para mulheres do
século XXI. Beira a infantilidade, a inocência, a ingenuidade
comover-se com algo tão inverossímil quanto à história de uma
virgem com mais de vinte anos, que aceita, após ver um quarto
repleto de objetos de sadomasoquismo, encarar o sexo com o homem
dominador. Qualquer mulher virgem em sã consciência, ao ver o
quarto descrito na obra, sairia correndo no mundo real! A ficção
não pode ser assim inverossímil. E mais a virgem tem orgasmo na
primeira relação. Orgasmo feminino em uma primeira transa é muito
irreal!
A personagem aceita assinar contrato
para transar e para assumir o papel de submissa. Que tipo de relação
é esta? Uma relação centrada no masculino, ignorando o feminino.
Trata-se de uma obra machista. Assusta-me o fato de que tenha sido
escrita por uma mulher e ter despertado o gosto feminino e é esta
indignação que estimula a escritura deste texto.
Aprecio ficção de qualidade,
inclusive erótica. Se as mulheres querem ler algo excitante,
registro nome de algumas autoras: Anais Nin, Almudena Grandes,
Marguerite Duras, Hilda Hist, Tatiana Levy. Recomendo alguns filmes
eróticos também, já que agora os Tons estão nas telas de cinema,
meninas se excitem de verdade com: Último tango em Paris, O amante,
Intimidade, As idades de Lulu.
Modelo de mulher podem ser Simone de
Beauvoir ou Dercy Gonçalves, para dar exemplos bastante diferentes
em tempo e espaço. Mulheres que lutaram por seu lugar no mundo, não
se deixaram dominar, sujeitos de sua história, não objetos.
Desejo que o mundo feminino seja
muito colorido, com sexo de verdade e sem papéis definidos. Deixem
os tons de cinza para a obra com a mulher escondida atrás do belo
vulto masculino. Nós não precisamos nos esconder, somos capazes de
caminhar, não precisamos de amparo, precisamos de espaço, de sexo
igualitário e nada de submissão!
Excelente analise. Importante uma escritora que escreve sobre erotismo tambem se posicione sobre esse tema. Parabens, Jo.
ResponderExcluirMuito obrigada, Adriane, pela leitura e pelo comentário. Um abração
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito obrigada, Hilda. Bjs
ExcluirParabéns pela crônica. Faltava-nos sua opinião sempre tão sensata.
ResponderExcluirFico preocupada com a promoção e com o sucesso, sobretudo entre as mulheres, de mentes tão doentias como a de Anastácia e a de Cristian Grey.
Muito obrigada, Tainara! Fico feliz que tenhas gostado da crônica, bjs
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