quarta-feira, 6 de agosto de 2014

O MENINO E O TIGRE

A cena intrigante da proximidade do menino às jaulas do leão e do tigre provocou à escrita deste texto, no qual reflito em busca de entendimento sobre a atitude do menino e a falta de atitude do pai.
Filhos buscam a proteção dos pais, em qualquer idade, mas principalmente na infância em que a vida ainda está tão distante de ser traçada e precisamos de um modelo para aprender a riscá-la. Muitas vezes as crianças perturbam, irritam, desrespeitam em busca de atenção, carinho. Meninos desejam o tal limite de seus pais!
Em outros tempos bastava o olhar duro dos adultos responsáveis para que as crianças se afastassem do perigo imediatamente! Concordo que alguns pais exageravam na dose da educação proibitiva e o que havia na relação familiar, às vezes, era uma espécie de medo, ultrapassava o respeito.
Acertar na dose ao educar é complexo, embora na teoria pareça simples: basta a exata mistura de proteção e liberdade. Diante da tragédia da amputação do braço do filho, o pai confessou ter tido dificuldade de cuidar dos dois filhos no zoológico. Ou seja, centrou-se no menino de dois anos e esqueceu-se do de onze. O próprio pai reconheceu as atenções voltadas apenas ao filho caçula. O primogênito buscava atenção, certamente sabia do perigo na proximidade com os animais selvagens, mas desejava o puxão de orelha, a puxada de braço, queria ser protegido pelo pai. A ausência de cuidado ficará marcada na ausência do braço do guri.
Se filhos são mesmo os tesouros dos pais, assim devem ser tratados. Penso na minha amiga Cléo, mãe de oito meninos (hoje todos adultos e bem criados), nunca lhe perguntei, mas certamente foram todos juntos ao Jardim Zoológico e ninguém se aproximou de jaula alguma. Crianças educadas em outra época, na qual o olhar da mãe bastava, aquele olhar de carinho e proteção, mas também de quem sabe repreender filho desobediente.

Indignada também fiquei com as pessoas que filmaram, assistiram à proximidade do menino das jaulas, sim, elas advertiram, avisaram do perigo, não obstante faltou-lhes iniciativa para agarrar o guri pelo braço e conduzi-lo até a mão do pai, da qual jamais deveria ter largado. Esta nossa sociedade do cada um na sua, mostrou-se igualmente responsável pela perda do braço do menino, afinal faltou-lhes a atitude esperada por gente ética, correta e do bem.

sábado, 14 de junho de 2014

BRASIL, MOSTRA A TUA CARA!

       

    Lamentável a abertura da Copa do Mundo com tão pouca brasilidade. Ainda bem que havia, pelo menos, as batucadas do Olodum para salvar a pátria, literalmente tentando salvar-nos no resgate de um pedacinho de nossa identidade. Claudia Leite parecia diva norte-americana tal qual a Jennifer López, lindas ambas, disto não resta dúvida; mas cadê mesmo o nosso Brasil?
            Na Copa temos que reconhecer: fizemos feio até aqui! Estádios ainda não finalizados, reformas feitas às pressas, tudo realizado no atropelo, de acordo com o famoso jeitinho brasileiro.
Após a abertura do Mundial, permaneço com vergonha. Agora não só da administração pública, mas também dos brasileiros presentes no estádio. Senti vergonha das palavras agressivas dirigidas à presidente da república. Apesar de todas as dificuldades e os problemas do governo, o povo deveria tê-la respeitado como autoridade maior desta nação, muito embora possam discordar veementemente do seu modo de governar. E assim seguiu mais uma imagem degradante sobre o caráter do povo brasileiro para o mundo ver.
Povo educado aplaude e não vaia o adversário, como fizeram os brasileiros presentes no estádio na data de abertura do Mundial. Vaiar revela uma postura deselegante de quem não sabe jogar. Temos que admitir que, infelizmente, não sabemos mesmo jogar, não temos postura adequada, queremos tudo com jeitinho, não respeitamos os nossos governantes. E ainda, para completar, muitos brasileiros vândalos estavam nas ruas quebrando o patrimônio público, em nome de algo a que chamam, erroneamente, protesto. Desculpem-me: protesto é muito diferente e deve estar baseado em atitude respeitosa, educada.
Que cara o Brasil deseja mostrar ao mundo? Será que já não somos suficientemente desprezados e mal-entendidos por outras nações ou temos que enfatizar ainda mais os nossos defeitos? Acho que também vou sair por aí mascarada, porque tenho vergonha na cara e fico vermelha diante de tanta bestialidade!

Ainda resta-nos tempo de mostrar outra faceta do Brasil durante a Copa! Temos que aproveitar o momento mediático para revelar ao mundo que somos um povo criativo, repleto de artistas brilhantes, somos alegres, otimistas e educados. Por favor, se não somos, tentemos ser, educados. E que esta não seja uma lição só para gringo ver.  

Publicado no Jornal Zero Hora,sábado, 14 de junho de 2014, p. 18

domingo, 8 de junho de 2014

A COPA DO MUNDO É NOSSA!

     
      Inicio este texto com o meu sincero pedido de desculpas aos fanáticos torcedores brasileiros. Denomino como fanáticos torcedores brasileiros todos aqueles que vestem a camiseta verde e amarela literalmente, apenas, em época de Copa do Mundo e que no restante do tempo atuam como cidadãos medíocres. Infelizmente o nosso povo é formado por uma maioria de sujeitos deste tipo. Brasileiros são sujeitos ingênuos, como torcedores e como eleitores. Casualmente, este ano temos copa do mundo e eleição por aqui.
Cabe mencionar que não torço contra o futebol brasileiro, nem contra a copa, nem contra nada. No entanto, torço de verdade é para o desenvolvimento de uma nação, torço por um Brasil melhor em termos de educação, saúde, segurança pública. 
Espero que o nosso país melhore a imagem diante do mundo com a copa, não desejo escândalos ou fracassos, mas gostaria muito de ter mais motivos para ter orgulho de minha terra. Não quero viver no país do futebol, gostaria mesmo é de viver no país da educação, da saúde, da segurança pública. Seria muito bom morar em um lugar onde o povo vestisse a camiseta todos os dias, tomando atitudes de cidadão decente, ético e digno. O Brasil dos meus sonhos resolve problemas com seriedade e competência, trata-se de um espaço no qual inexiste o famoso jeitinho.
Confesso que entre as notícias sobre o preparo físico do Neymar e o PIB destinado à educação, o segundo tema me parece mais digno de interesse. Tomara que deixemos de viver o orgulho tupiniquim de sermos o país do futebol para um dia sermos reconhecidos por outras qualidades. Espero que possamos comemorar outras vitórias, receber outras taças e não somente esta do futebol.
 Nossos governantes tem se revelado pouco ou nada nacionalistas e devemos a eles nosso descrédito neste país. Portanto, em ano de eleições, caros leitores, olhos abertos não só para o futebol, mas também e, principalmente, para o futuro de nosso país. Lembrem: o maior ato de cidadania exercemos na urna e não no estádio. Afinal
é por meio da urna e não de nossa torcida e vibração pelo futebol, que podemos contribuir para um país melhor.

Sorte e responsabilidade ao Brasil na Copa e nas eleições!
Publicado no blog do jornal Zero Hora, junho de 2014, disponível em:http://wp.clicrbs.com.br/opiniaozh/2014/06/page/2/?topo=13%2C1%2C1%2C%2C%2C13

segunda-feira, 31 de março de 2014

PAÍS TUPINIQUIM E HIPÓCRITA

A polêmica advinda da pesquisa realizada no Brasil pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), e que apontou a roupa feminina como provocadora do estupro segundo 65% dos entrevistados, motivou este texto.
Diante da pergunta Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas?” 65% dos entrevistados concordaram, total ou parcialmente. E sobre: “Se as mulheres soubessem se comportar haveria menos estupros?”, 58,5%, também concordaram total ou parcialmente.
Absurdo, barbaridade, vergonha? Tenho dúvidas sobre como qualificar o resultado da pesquisa sobre o motivo que leva à violência sexual contra mulher: a roupa curta, ousada, sensual. A causa do estupro é a insanidade do sujeito! O estupro revela um ser doentio, que não sabe lidar com o próprio desejo, é um tipo descontrolado, incontido, agressivo.
O grande problema feminino é o terrível gesto de aprender a engolir a dor e o fato de muitas mulheres não denunciarem a violência sofrida. Nada há de culpa por parte da mulher que sofre à violência, há o medo de realizar a denúncia e a capacidade de silenciar a dor. O sexo frágil deve fazer-se ainda mais forte! Afinal somos o maior símbolo da força e já enfrentamos muito preconceito, muita humilhação.
Estranhamente o Brasil, que parece um país de gente de mente aberta, responde desta forma à pesquisa! Alguns culpam o IPEA pela formulação da pergunta que conduz a determinada resposta, mas não condeno a pergunta, julgo a resposta que é muito clara e assustadora. Julgar como culpada a vítima, é bizarro!
O Brasil esbanja hipocrisia, passamos uma imagem de povo pra frente pra vender turismo para o carnaval e para as praias com mulher bonita e com o corpo à mostra. Bundas brasileiras femininas vendem a imagem de nosso país. Somos mercadorias!

Perplexidade talvez seja o vocábulo mais adequado para descrever o meu sentimento ao saber do resultado declarado pela pesquisa. Perplexidade, porque nós não somos uma mercadoria e continuamos sendo tratadas deste modo, inclusive por outras mulheres, já que a pesquisa não foi dirigida somente ao sexo masculino. O que torna a realidade ainda mais dura e triste. E mais envergonhada fico ao ler que a imprensa francesa deu destaque à pesquisa brasileira, ou seja, nosso preconceito, nossa imagem de povo machista e retrógrado espalhado pelo mundo afora. Que adianta ser país da copa, continuamos sendo os mesmos tupiniquins e hipócritas!

sábado, 15 de março de 2014

Carta ao Prefeito de Rio Grande – Alexandre Lindenmeyer

Prezado Senhor, é com todo respeito que lhe dirijo esta carta pública e explico, primeiramente, porque a quis tornar pública, porque escrevo como porta-voz de um grupo bastante grande de moradores do bairro Cassino.
Considero importante que o senhor saiba um pouco sobre esta que lhe escreve, pois bem, farei uma breve apresentação.
Sou servidora pública, mais especificamente, professora concursada da FURG, porto-alegrense, mas morei sete anos em Erechim, antes de decidir morar em Rio Grande, ou melhor, no Cassino, onde estou com minha família desde 2010.
Sabe, vou ser sincera, quando fiz o concurso, no final de 2009, fiquei hospedada no centro de Rio Grande e não havia gostado da cidade, achei tudo muito sujo, mal cuidado, na verdade as construções antigas me pareceram tão belas e lamentei o seu péssimo estado de conservação, minha opinião a respeito, permanece a mesma.
No último dia do concurso, visitei o Cassino e desejei muito morar neste lugar, não sei o que vi, mas algo me comoveu ao caminhar na calçada em meio às árvores da Avenida Rio Grande e ao pisar na areia da maior praia do mundo. Consegui imaginar minha família vivendo em harmonia no Cassino. Acertei na escolha: meu marido e minha filha aprovaram o lugar por mim escolhido!
Ao chegar em 2010 o Cassino não era o mesmo que hoje vejo: o descuido, o descaso está por todos os lados, há buracos que mais parecem crateras, esgoto a céu aberto, muita sujeira espalhada por todos os lados. Agora está um nojo viver neste lugar! Lamentavelmente devo confessar que, após todo dia de chuva, sinto uma saudade gigante de Erechim, cidade limpa, cuidada, asfaltada. Sabe, escrevi uma ocasião elogiando a cidade de Erechim no jornal local, recebi até carta do prefeito comovido por uma cidadã porto-alegrense que via tantas coisas bacanas na sua cidade. Gostaria de poder fazer muitos elogios a sua administração e sua cidade também, mas no momento desculpe-me nada vejo para ser aplaudido, mas desejo muito redigir outro texto apontando as benfeitorias realizadas por sua gestão, principalmente no Cassino.
O senhor teve meu voto, faço questão de dizer, embora isto não faça nenhuma diferença sobre a sua responsabilidade na administração pública. Escrevo mais do que tudo para de lhe fazer um singelo convite: visite o Cassino, de preferência caminhe, pode ser de carro também, embora a pé seguramente lhe causará maior emoção, não precisa ser no dia da chuva, pode ser no dia seguinte e sinta a mesma vergonha que eu moradora. Meus hóspedes amigos e familiares demonstram estado de choque ao ver que não existe pavimentação nas vias públicas, a visualização do esgoto lhes causa um grande assombro. A falta de saneamento básico trata-se de um problema sério de saúde pública, pois a água da chuva mistura-se ao esgoto das residências, assim acarreta a contaminação do ambiente, além de expelir um odor insuportável. E eu morro de vergonha! Senhor prefeito, eu não gosto de sentir vergonha do lugar onde moro. Quero voltar a ter orgulho do Cassino! Considero este um local abençoado por Deus por suas belezas naturais e é triste perceber que quem deveria cuidá-lo, o ignora, o rejeita, o despreza! Desculpe-me a pergunta tão ousada: O senhor não tem vergonha? Um lugar que poderia ter tão turismo, hoje não apresenta atrativos, muito pelo contrário a situação atual é capaz de afugentar os visitantes.
Logo que comuniquei amigos e familiares da minha mudança para Rio Grande, todos ficaram entusiasmados, afinal naquele momento havia uma enxurrada de notícias sobre a cidade que mais crescia no sul do país, um dos maiores PIBs do nosso estado. No entanto, sinceramente, senhor prefeito, não sei onde há investimento! Espero que o senhor responda, não só a mim, exclusivamente, e sim a toda a população moradora da cidade de Rio Grande sobre suas ações realizadas e a realizar, pois lhe confiamos a administração deste lugar e temos o direito de saber como ele está sendo gerido. Espero transparência na gestão pública e mais do que isto responsabilidade e trabalho.