terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Ufa, 2022 foi um ano de muito trabalho!

        


  Começo com a imagem do abraço de parte do coletivo Mulheres de Escrita, no lançamento do Sete mulheres minicontam em Porto Alegre, no Galpão 1961. A foto resume o meu 2022: ano de muito abraço, de muita sororidade, de muito trabalho, de muito amor e de muita literatura! 

    Para mim 2022 fica marcado por muitas realizações profissionais, acadêmicas e literárias. 
    Também fica marcado como o último ano do desgoverno brasileiro e a alegria e o alívio de reeleger o Lula presidente!
        Sobre minha vidinha, no acadêmico:
        A primeira grande alegria ocorreu em abril, quando fui paraninfa pela primeira vez. Levei dias escrevendo e reescrevendo o discurso. Espero ter dado conta de expressar meu profundo afeto pela turma do meu ❤.
        Em maio, voltamos as aulas presenciais na FURG e foi estranho e bom voltar. Outra grande alegria foi a de conhecer, pessoalmente, estudantes e bolsistas, rever turmas, alunos e colegas de quem tinha saudades. Ainda vivíamos cercados de insegurança sobre a pandemia, mas com o tempo foi melhorando...
        E mais uma enorme alegria, em agosto, iniciei meu pós-doutorado na área de tradução, na UFRGS, com afastamento de um ano da FURG. Quando era criança e adolescente jamais imaginei que iria estudar tanto na vida e com tanta paixão!
        Publiquei capítulos de livros teóricos, coordenei projetos e contei com ótimas parcerias de colegas e bolsistas, na pesquisa, no ensino e na extensão. Fizemos a diferença, vestindo a camiseta da FURG com orgulho.
        No literário: Nossa, que ano produtivo foi este! Perdi as contas das oficinas ministradas, presenciais e virtuais. Organizei o Sete mulheres minicontam, do coletivo Mulheres de Escrita, coordenado por mim, e lançamos com a Editora Libertinagem, em Porto Alegre, no mesmo dia da foto histórica das Mulheres Escritoras,  na Escadaria 24 de maio (registro realizado com escritoras, em diferentes cidades brasileiras). Que dia bonito: 11 de junho de 2022!
      Uma emoção também foi a de autografar o Minis de quarentena, da Editora Libertinagem, para colegas, amigos, alunos e ex-alunos na Feira do Livro de Rio Grande. 
        Além disso, fiz sarau com as alunas das oficinas do Jardim Encantado, com a presença das colegas escritoras Taiasmin Ohnmacht, Letícia Prata e da Patrícia Martins Fagundes Cabral, representando o coletivo Mulheres de Escrita. 
        Fui curadora da série de minicontos: Treze minimotivos para falar sobre política, a convite da Nathallia Protazio, para a revista Parêntese e convidei minhas alunas de escrita e dos coletivos que coordeno para publicarem. Fiz questão de oportunizar o espaço para quem está começando a se reconhecer como escritora. Fiquei com muito orgulho das gurias, mandaram tri bem!
        O coletivo Mulheres de Escrita fez uma parceria maravilhosa para publicação na revista La Loba. Gracias, Carolina Panta.
        Em novembro publiquei o Demorei a descobrir que meu pai era um guri com a Editora do meu ❤, a Libertinagem. É o livro mais simples e mais emocionante escrito por mim, até então.
        Outra notícia linda, meu primeiro romance inédito, foi premiado na Lei do Livro de Rio Grande. Em 2023 o A memória é uma folha seca será lido. Só de pensar já me dá uma ansiedade e uma alegria gigante! O livro foi idealizado em 1993! Sim, 30 anos para ganhar mundo! 😲
        Participei pela primeira vez do Autor Presente, no Presídio Estadual de Lajeado e a experiência preciosa ficará para sempre na memória, assim como as oficinas que fiz na ACM Vila Restinga Olímpica a convite no meu amigo Peter. 
         Participei do Desafio Literário promovido pelo IEL, na Feira do Livro de Porto Alegre, pela AGES. 
    Organizei o II Concurso Literário Carmen da Silva, com a parceria de colegas, e o e-book, que logo será lançado, com as crônicas selecionadas pela comissão julgadora.
        Com o Mulherio das Letras, vivi momento de balbúrdia maravilhoso, o A Caminho da Feira e o sarau em homenagem a Telma Scherer no primeiro dia da Feira do Livro de Porto Alegre.
     Como tradutora, nem sei precisar quantas laudas de documentos e de literatura traduzi, mas foram muitas, muitas mesmo... Nem vou contar para não ficar cansada. 😆 Agradeço demais a parceira da Alison Guedes Altmayer.
    Na vidinha pessoal, família com uns perengues de saúde, mas segurando bem a onda e demostrando união e fé. Logo tudo estará bem! 🙏💓
    Das lindezas da vida: as amizades da Zumba, a vida de adolescente que tenho com as minhas turmas, os eventos, as festas, os passeios, o Baila Costão, a alegria de estar com gente que dança e sabe ser feliz!
    Quanto nadei este ano? Não faço ideia, porque não conto quanto estou na piscina, só olho o relógio e calculo quanto tempo posso ficar. E me sinto muito mais feliz ao sair da água, cheirando a cloro. Devo à natação muitas das minhas páginas literárias que dali emergem.
    Dez quilos a menos neste 2022, zumbando, nadando, sendo mais feliz, com mais alta estima e alegria. Fica a dica: encontre algo que goste para mover o corpinho, e, claro, tenha alimentação saudável e beba pelo menos dois litros de água por dia (conquistas tb deste 2022). 
    Agradeço muito aos familiares e amigos que seguem comigo, que acreditam na democracia como euzinha. Claro, lamento os que se afastaram e, os que partiram de vez, por defesa a um governo fascista.
    Agradeço a todos que estiveram comigo, ao longo de 2022, principalmente, aos meus leitores e alunos, que tanto acreditam na minha escrita.
    Foi triste, porque neste ano partiram grandes artistas... Vou mencionar somente três mulheres, dentre as muitas estrelas que foram para outro plano: Elza Soares, Lygia Fagundes Telles e Nélida Piñon. Por aqui vamos seguir ouvindo, lendo, relendo e relembrando tudo que estas mulheres fizeram por aqui e não foi pouco!
    Que venha com tudo 2023! Esperança é o que me move!
    Vida longa ao amor,  à amizade, à fé, ao Brasil, à democracia, às universidades públicas, à FURG, ao trabalho, ao espanhol, à literatura, à arte, à tradução, aos escritores e, principalmente, às escritoras, às oficinas literárias, aos coletivos de escrita, às Mulheres de Escrita,  aos Escritores de Quinta, às editoras independentes, à Editora Libertinagem,  às revistas, à Zumba, à natação.
Seguem algumas fotos do meu 2022. 
Obs.: E a crônica ficou parecendo um relatório e lembrei que preciso urgente  atualizar o meu curriculum lattes e a página do autor da Ages! 😬
Bom ano, galera! 😍


       

   





















terça-feira, 5 de julho de 2022

Debutando no Baile Costão: desajeitada e feliz!

 

 
            Desde criança gosto de dançar, apesar de ser muito descoordenada. A dança entrou na minha vida faz pouco, algumas semanas antes do início da quarentena, em março de 2020. A partir de então aulas online de Mixturado, com o Fernandinho Miranda, que era meu professor na Academia, e de Ritmos com o Robinson Rodrigues, a quem só conheço através da tela. Tenho profundo carinho pelos dois responsáveis por me trazer alegria durante o isolamento social. 

Voltei a dançar, presencialmente, após a primeira dose da vacina, em setembro de 2021. Na primavera, a estação do renascimento, a minha vida tomou novo rumo, mais alegre e com mais autoestima com a Zumba, com o professor Lucas di Natan e com os colegas, porque o dançar sozinha em casa, na modalidade online, não tinha a mesma energia.   

Em abril deste ano, decidi ir ao Baila Costão com as colegas e o professor, eu, com meus 52 anos, me senti adolescente como minha filha, planejando a viagem de formatura do ensino médio para Porto Seguro. No dia de organizar as roupas para o Costão do Santinho, peguei a mala emprestada da filha e ri muito, ao ver, amarrada na alça, a fitinha cor de rosa do Senhor do Bom Fim. Viagens abençoadas de dança, festa e alegria!

Retornamos da viagem no domingo e, desde então, transbordo de felicidade. Momentos assim, de profunda emoção, sempre me levam à escrita, preciso esparramar nas palavras. Sou inteira, jamais pela metade no que faço. Então fui para aproveitar o máximo e assim fiz: me arrumei para o glamour da festa do Óscar, cuidei de todos os detalhes para a festa à fantasia, fiz todas as aulas de Mixturado para matar a saudade do Fernandinho e todas da Zumba que o corpo aguentou. A natureza e a arte juntas fazem do Baila Costão um evento memorável. Para maior entendimento sugiro o vídeo da aula ao ar livre do Jaime Aroxa, para mim, o ápice do evento.

Merece destaque o atendimento perfeito do Resort, as opções gastronômicas e etílicas, a beleza do local, do projeto paisagístico, Além da natureza e da dança, há a troca de energia, a escapada da realidade, doses extras de alegria e de motivação para a vida. Me tornei mais amiga das colegas da Zumba, ouvindo suas histórias de vida. Eu que sou muito falante, penso que devo aprender a escutar cada vez mais. O Denny Pires, professor, coreógrafo, me disse algo comovente e tomo a liberdade de relatar aqui, com o devido consentimento dele. Ao ser indagado sobre qual era o seu hobby, respondeu ser a sua profissão. Lembrei de uma palestra com a Lya Luft, no qual disse ter explicado ao neto criança que o trabalho era a brincadeira dos adultos. Abençoados os que tem a arte como ofício, como missão!

Eu invento histórias e desde que aprendi a escrever, as transfiro ao papel. Não sei se escrevo tão bem como os professores do Baila Costão dançam, mas faço com o mesmo amor. Sei que nem sempre alegro e faço as pessoas felizes me lendo, porque a literatura não é como a Zumba. Tento, sim, emocionar, provocar, enfeitiçar e encantar, é assim que me sinto olhando para os professores quando danço. Há algo enigmático no olhar de quem dança, penso que na literatura também, só que é um olhar para dentro.

A literatura é meu ofício. A dança não sei se é meu hobby, porque não associo apenas a um prazer descompromissado, é mais forte do que isso, é necessidade, mas não vou chamar de vício, porque estaria associando ao negativo. Penso que seja um feitiço, um encanto, sem deixar de ser liberdade.  Em ambos, literatura e dança, me sinto absolutamente livre.

E desejo que a liberdade permaneça no Baila Costão, que fez quinze anos, e pela primeira vez contou com uma sala dedicada à Zumba que deve seguir para sempre no evento. Afinal a diversidade, seja ela qual for, é o que há de mais belo no mundo. Que cada um encontre sua modalidade, pois estou certa de que quem dança é mais feliz! Eu me achei, sou da turma da Zumba, que aliás teve uma equipe maravilhosa no Baila Costão: Denys Pires, Murilo Maia, Leo Fontes, Dudu Neves e Lucas di Natan! Agradeço a todos os professores com os quais dancei e danço: Fernandinho, Binho, Tayná Pires, Ricardo Alves. De modo especial agradeço ao Lucas que traz tanto afeto às suas aulas e eu tento retribuir o sentimento, dançando empolgada. E meus movimentos podem estar desajeitados, mas estou sempre inteiramente feliz.

A arte salva, a arte cura! ¡Viva la vida!

                                                 

domingo, 15 de maio de 2022

Baita semana! ¡Gracias a la vida!

 










Escrevo para dividir a emoção da semana. Não ganhei na Mega Sena, nem recebi um prêmio literário, muito menos conheci o Antonio Banderas! Ou seja, nada de excepcional aconteceu! Mas no meu mundinho pequeno e que sabe ser feliz com pouco, tenho motivos para celebrar e conto para dividir com a minha meia dúzia de leitores fieis que me acompanha e fica feliz comigo.

A primeira novidade: Sete mulheres minicontam, obra organizada por mim, escrita pelo coletivo Mulheres de Escritas, que eu coordeno cheia de orgulho, foi para a gráfica e já temos data de lançamento em Porto Alegre. Mais uma publicação da Libertinagem e mais um lançamento no Galpão 1961 em Porto Alegre. Que parcerias maravilhosas!

A segunda novidade: Euzinha no catálogo do Autor Presente. Então, professores fiquem de olho no projeto, inscrevam suas escolas e me chamem! Já tô com roupa de ir! Prometo chegar bem faceira com os meus minicontos para conversar com os estudantes de ensino médio. Sempre sonhei com meus minis invadindo as escolas. Duzentos e Minis de quarentena prontos para ocupação.


A terceira emoção foi a da noite de autógrafos do Minis de quarentena na Feira do Livro da FURG. Tenho uma história de amor com a feira que detalho a seguir.


Autografei, na Praça Didio Duhá, pela primeira vez, no verão de 2011, o meu primeiro livro solo, Aroma hortelã, que já tinha vivido lançamento em Erechim e Porto Alegre. Tinha me mudado em maio para Rio Grande, então conhecia pouca gente na cidade, não teve fila de autógrafos, nem lembro quantos exemplares vendi, autografei para alguns alunos, colegas, amigos, meus primos, minha cunhada. Foi uma noite agradável.

Em 2015, autografei o Vitrais, coletânea de contos do Invitro, foi muito diferente de 2011. Estava com o pessoal do coletivo, teve roda de conversa conosco antes dos autógrafos. Veio família de Porto Alegre: pai, mãe, irmão, sobrinha. Tivemos uma baita fila de autógrafos. Bem emocionante. Foi a última visita do meu pai ao Cassino, disso eu não sabia, claro. Mas ainda bem que fiz uma foto com o Vitrais, com ele e com a mãe.

Em 2016 voltei a Feira, minha mãe veio de Porto Alegre para prestigiar o lançamento do Histórias de Vento, mar e amor, dos Escritores de Quinta, que na época ainda não se chamavam assim, eram a turma da Tia Jô, os meus alunos de escrita. Organizei o livro bem orgulhosa do grupo. Foi lindo ver a alegria dos escritores sentados, um ao lado do outro, na mesa grande, autografando os exemplares que iam passando de mão em mão. A fila foi gigante, um calor absurdo e não cabia em mim de alegria. Fomos os campeões de venda da edição da feira em 2016.  

Em 2018, tinha dois livros para autografar na Feira, mas não compareci, recém tinha me mudado para Porto Alegre, mas senti muito não ter ido celebrar duas obras que tanto me orgulho de fazer parte. A turma do Invitro lançou o romance coletivo Condomínio Saint-Hilaire e o grupo de pesquisa, colegas e alunos da FURG, a primeira tradução da autora que amo, Contos - Juana Manuela Gorriti, que eu contribui com tradução, organização, prefácio, revisão. Um trabalho de anos que ficou uma lindeza!

Em 2019, não autografei meu segundo livro solo, Duzentos, na Feira da FURG, mas ele estava lá na Banca da Usina das Artes.

Por fim, conto da profunda emoção de autografar no dia 12 de maio de 2022. Teve apresentação da obra no início, disse algumas palavras sobre o que a escrita de um diário minicontado representou para mim no início da quarentena e para os que acompanharam o projeto e de que como se transformou em um livro. Foi diferente estar na feira em outra época do ano, estava frio, mas teve tanto abraço caloroso que até esqueci. Desde adolescente tenho o péssimo hábito de quando escolho, previamente, a roupa para determinada ocasião, não importa o clima, uso o planejado. E para cada livro tenho uma escolha de tons e estilo para combinar com a capa. Minis de quarentena tinha que ser de vestido preto com algo colorido. Em Porto Alegre, o lançamento foi na primavera, usei mantón espanhol, no Cassino um casaco peruano. Passei frio nas pernas e segui feliz. Na Feira encontrei alunos, ex-alunos, colegas, amigos, poetas, escritores. A fila foi grande e sou grata a quem esteve por lá na noite fria, me entregou exemplar do Minis de quarentena para autógrafo, palavra afetiva e abraço quentinho.


E seguimos na emoção, porque a semana ainda não tinha terminado. Eis que, no sábado, inicio uma Oficina de Escritas de Si e entre meus alunos está a minha paraninfa. Responsabilidade, honra e emoção! A passagem do tempo e as conexões afetivas sempre me encantam. Havia sol em Porto Alegre, mas nada brilhou mais que as leituras das produções da turma. Eu já chorei no primeiro encontro e nem sei explicar o quanto resgatar histórias guardadas salva as pessoas. Sou grata pelas emoções que vivo e pela confiança de tantas pessoas em compartilharem seus relatos de vida comigo.


E para completar a semana, fechei minha viagem para o Baila Costão com a turma da Zumba, que alegra minha vida. Estou animada como adolescente indo para viagem de formatura de ensino médio para Porto Seguro.


Minhas pequenas alegrias foram somando-se e a semana ficou gigante de emoção. Baita semana! ¡Gracias a la vida!

 

 


sexta-feira, 15 de abril de 2022

Sobre melão espanhol e afeto

 


Hoje quero olhar menos para o celular e mais para o céu. O estar sempre conectada tem me cansado. Quero disfrutar mais e fotografar menos, porque o desejo por registrar momentos e postar nas redes, faz com que deixemos de apreciar segundos preciosos. Pensei sobre isso outro dia, na celebração de formatura da minha sobrinha-afilhada, não sabia se fotografava, se olhava, se chorava. Fiz um pouco de cada.

Ouso dizer que muito de emoção na minha vida não fotografei, não postei, mas, com certeza, ficou guardado no fundo da memória e se transforma em história. No dia do beijo pensei em postar fotos, mas, além da preguiça de procurar, que reconheço pesou na decisão, também sei que muitos beijos e afetos estão somente dentro de mim. Assim optei por recorrer a minha escrita literária, fotografei páginas de meus livros e enviei beijos aos leitores, porque quero demostrar gratidão e carinho a quem me lê, acredita na minha palavra e se emociona comigo.

E os melhores momentos não cabem em uma foto, não cabem nas redes, são aqueles segundos que não podem e não devem ser desperdiçados, devem ser degustados, apreciados, sorvidos como aquela sede de virar o copo rápido até a última gota e finalizar com um sorriso de satisfação.

Ao cortar a minha fatia de melão espanhol no café da manhã de hoje, lembrei do meu pai. A última refeição que lhe servi, no hospital, foi um mingau de melão espanhol, que meu pai não gostava e eu sempre gostei. Ele sabia e me ofereceu, come, filha, é o melão que tu gosta! Lembro que eu ri: Pai, bem capaz! Quem tem que comer é tu, né? Olha como tá cheiroso, pai, eu sirvo pra ti! E fui servindo as colheradas, limpando com o guardanapo os cantinhos da boca como se ele fosse criança. Não fiz foto alguma do meu pai hospitalizado, porque era momento de intimidade e sempre o respeitei muito, mas sou capaz de rememorar com detalhes muitos momentos de afeto e cumplicidade, além desta cena relatada. Acredito que o olhar azul do meu pai segue me observando e zelando por mim, inclusive, enquanto degusto minha frutinha matinal favorita.

Mais céu, menos celular, vida doce, suculenta e cheirosa como melão espanhol para vocês!

sábado, 26 de março de 2022

Sou de Porto Alegre

 





           

        Podemos morar em outras cidades, dividir a vida entre dois ou mais lugares, estar sempre entre estradas ou aeroportos, mas acredito que pertencemos de verdade a um único porto. No meu caso, o porto é alegre. Nem sempre tão alegre, porém ter o nome é bonito e otimista. Nem tudo são flores, na capital do Rio Grande do Sul, apesar de muito florida e arborizada. Escolho, no dia de seu aniversário, escrever ressaltando as suas belezas.

          Voltei a viver em Porto Alegre, no início de 2018, após um período de morada pelo interior do RS que já completava quinze anos. Me sinto um pedaço erexinense, um pedaço rio-grandina, no entanto, sei que completa mesmo sou é de Porto Alegre.  

        Percebo o quanto a cidade me habita quando escrevo. A ambientação pode ser qualquer uma para o leitor, porque, de modo geral, o espaço não aparece delimitado de modo explícito nas minhas histórias, mas no meu imaginário está sempre a minha Porto Alegre.

            A Porto Alegre onde cresci, em um bairro afastado do centro, na zona sul. Penso até que deveria incluir no meu curriculum lattes que fui Princesa da Festa do Pêssego da Vila Nova (pausa para a risada), porque foi um gesto de amor pela cidade e pelas minhas origens. As fotos com vestido e faixa com prefeito e bispo para uma adolescente tinha o peso da fama e também do amor por mostrar a outras pessoas o bairro que o meu bisavô italiano escolheu para viver. Tenho orgulho de fazer parte de uma cidade que planta pêssegos, uvas e ameixas e acolheu imigrantes. Naquele tempo, no final dos anos oitenta, a Festa do Pêssego era realizada na frente do local onde meus pais se conheceram e depois se casaram na igreja São José da Vila Nova. Recordo do quanto gostei da função de apresentar uma Porto Alegre para muitos desconhecida. Falei em rádio e televisão, muitos chegavam na festa e me diziam que vieram pelo meu convite.

      Agora apresento a cidade de outro jeito, através da minha escrita, e aproveito para reforçar o convite para conhecerem a zona sul! Centro Histórico, Bom fim, Cidade Baixa, Menino Deus, Independência, Bela Vista, Petrópolis e outros tantos bairros são encantadores, mas a nossa área rural merece ser visitada! Apesar de ter me mudado para bairro mais central, a zona sul jamais me abandona e meu bar favorito está lá: Galpão 1961. Fica a dica!

E em tempo: Parabéns, Porto Alegre!

 

terça-feira, 22 de março de 2022

Como furar a bolha dos brasileiros brancos da classe média?


 



Outro dia fiquei triste, porque em uma discussão com amiga com quem tenho, ou tinha, muita intimidade, ouvi que eu havia mudado. Fiquei incomodada e argumentei ser a mesma de sempre. Depois de muito pensar a respeito, reconheço não ser a mesma de sempre. Muito em mim mudou mesmo, é verdade!

Estou segura de que a literatura transforma o sujeito, embora a escolha de leituras seja crucial para o resultado de qualquer mudança. Sempre fui leitora, mas demorei a conhecer a obra de autoras e autores negros. Ter lido Conceição Evaristo e Jeferson Tenório, entre outros autores, foi fundamental para desenvolver a minha empatia.

Paralelo à leitura, contribuiu também de modo significativo para o meu entendimento sobre o racismo, o fato de ter ingressado, como docente, em uma universidade federal. Assumo que, até então, não tinha percebido a importância das cotas raciais. Aprendi e aprendo muito com todos os meus alunos e, principalmente, com os cotistas.

Antes do meu ingresso na FURG, escrevi a favor das cotas sociais, contrária às cotas raciais. Na ocasião, morava em cidade do interior do RS, atuava como docente em universidade comunitária, o que não justifica minha postura naquele momento, só demarca a minha ignorância. Deveria ter visto, mas não enxergava, a ausência de negros no espaço acadêmico, não refletia sobre a nossa dívida histórica escravagista. Nunca me havia julgado racista. O fato de ter amigos negros me parecia argumento suficiente para tal afirmação, até perceber que eu não enxergava era nada!

Escrevo para tentar furar bolhas de brancos, classe média, que chamam de mimimi a dor do outro, mencionam empatia em discursos, sem saber o real significado. Tenho tentado fazer algo: lendo e indicando obras de autoria negra; assistindo e indicando filmes e documentários sobre racismo. Deixo algumas sugestões: entrevistas do Roda Viva, disponíveis no YouTube com: Djamila Ribeiro e Chimamanda Ngozi Adichie; documentários da Netflix: AmarElo – É Tudo Pra Ontem e Olhos que condenam. Não menos importante: tenho eliminado da minha linguagem vocábulos racistas e piada preconceituosa não me causa mais graça alguma. Sobre leituras, registro a lista do Jeferson Tenório em Seja um leitor antirracista, publicada no jornal Zero Hora, em 10/06/2021: Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus; Americanah, de Chimamanda Adichie; Parem de nos Matar, de Cidinha da Silva; Pequeno Manual Antirracista, de Djamila Ribeiro; Marrom e Amarelo, de Paulo Scott; Cair de Costas, de Ronald Augusto; Um Buraco com Meu Nome, de Jarid Arraes; Os Supridores, de José Falero; Menina de Tranças, de Lilian Rocha; Eu Vou Piorar, de Fernanda Bastos; Terra Estranha, de James Baldwin; O Olho Mais Azul, de Toni Morrison; Pequeno Espólio do Mal, de Luiz Mauricio Azevedo; Ponciá Vicêncio, de Conceição Evaristo; Terra nos Cabelos, de Tônio Caetano; Torto Arado, de Itamar Vieira Junior.  Acrescento à lista O avesso da pele, de Jeferson Tenório, Cartas para a minha mãe, de Teresa Cárdenas, Aqui dentro, de Nathallia Protazio e Vozes de retratos íntimos da Taiasmin Ohnmacht.

Finalizo destacando que, se vivêssemos em uma sociedade igualitária, não precisaríamos de cotas, nem de palavra para nomear racismo, homofobia, machismo, feminicídio, mas enquanto ainda moramos por aqui e desta forma, sejamos empáticos.

E, sim, eu mudei e quero seguir mudando sempre! Estou aprendendo com o Raul Seixas a ser aquela metamorfose ambulante! Sinto um alívio em não ter mais aquela velha opinião formada sobre tudo!

 


terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Precisamos aprender a ouvir a melodia do outro!

          Sou fã do Almodóvar! Desde de que o conheci, acompanho a carreira. Minha paixão data do final dos anos oitenta, quando ingressei no curso de Letras, e pode ser confirmada em 2019, nos ciclos Almodóvar I e II, projeto de extensão do ILA/FURG, coordenado por mim e pelo colega Wellington, igualmente entusiasta e conhecedor da filmografia do diretor espanhol. Assistimos a quase todos os filmes com discussão ao final. Penso que as tardes de cinema e pipoca fizeram a diferença na vida dos estudantes e dos docentes. Das maravilhas que tenho a honra de ter construído com o meu colega parceria dentro da universidade pública, os Ciclos foram, sem dúvida, das experiências acadêmicas mais gratificantes da minha vida.

            Eis que anotei na agenda a estreia na Netflix do Madres paralelas e, apesar de tantas pessoas estarem elogiando, achei decepcionante. Falta elemento surpresa, profundidade no tratamento de temas atuais e relevantes, falta a irreverência e a ousadia do diretor. Estão ali a maravilha do elenco, a paleta de cores que amo (basta conferir com a capa do meu último livro), o figurino. Os primeiros minutos de filme, me entusiasmaram, a relação entre as mulheres mães solo no momento do parto, a sororidade, a relação mãe e filha e o pano de fundo político. Achei que tudo seria perfeito, profundo e enlaçado. Porém, o filme é previsível, trata de muitos temas significativos, promete muito e pouco entrega, é superficial, pincela uma tela que merecia ser um quadro enorme.

            Mas, como de surpresas também é feita a vida, ontem fui assistir um filme, também disponível na Netflix, recomendado por amigos, já sabia que iria gostar só pelo título: O violino do meu pai. O elenco é primoroso, a atriz mirim é puro carisma. O filme é repleto de elementos surpresa, de personagens profundos cujas histórias vão sendo reveladas aos poucos. Nada sobra, nada falta, é perfeito e os diálogos são tão lindos que parei para anotar no bloco de notas do celular, frases para carregar para a vida: Todo mundo é uma melodia; Família é a composição mais linda feita com notas diferentes.

Chorei litros, me emocionei profundamente, porque fala de amor entre pai e filha, este laço tão precioso que nada desune. Quem tem pai presente e amigo, sabe que nunca existirá abandono, nem mesmo a morte desfaz o laço, desprende a conexão afetiva. Com tantos homens que não assumem a paternidade, ver esta figura paternal no filme tão comprometida e amorosa me encanta e me faz também ser grata pelo pai que tive.

Sempre digo que tenho um critério bairrista para avaliar minhas emoções: o número de Bahs! pensados ou exclamados em voz alta ao ler, escutar uma música, ao ouvir uma música ao vivo, ver filme, quadro, paisagem (para citar alguns poucos exemplos: quando vi a Cordilheiras dos Andes, quando pisei em Madrid, quando vi Saturno devorando a su hijo, quando assisti no cinema As sufragistas, quando li Conceição Evaristo, quando ouvi Yamandú Costa). Então perdi as contas dos meus Bahs! ao longo do filme O violino do meu pai. Dou a minha nota máxima de estrelinhas e corações.

            Para mim, o que fica marcado na alma depois de ter visto o filme, é o que sempre digo: o amor e a arte tornam as pessoas melhores. Devemos nos nutrir de afetos e de arte para seguir melhorando e aprendendo a ouvir a melodia do outro. O filme espanhol me trouxe saudade de outras obras do Almodóvar, já o filme turco me trouxe saudade do meu pai que não era músico, mas me ensinou como tocar a vida.