
Setembro de 2021 marcou minha
vida de recomeços, voltei à Zumba, à Natação e publiquei um livro. Para muitos
pode parecer tão simplório, mas para mim foi muito. Desde março de 2020 sem dançar
na academia e nadar, o retorno merece ficar para sempre na lembrança. Tudo a
seu tempo e de forma responsável, após esperar 15 dias da segunda dose da vacina,
munida de álcool gel, máscara e muita energia guardada, voltei à academia. Dancei
em casa em 2020 e parte de 2021, no entanto ver somente o professor na tela, apesar de muito animado e querido, não é capaz de transmitir a mesma energia da sala. Nadar
sem piscina não há como, né? Caminhei muito para compensar. E a literatura? Escrevi, de 20 de abril a 6 de novembro de 2020, 201 minicontos (para brincar com o
título do livro anterior Duzentos), todos os dias, sem pular nenhum dia, todos escritos
na data. Não planejava publicar, escrevia para postar no Twitter, Facebook,
Instagram e blog. O incentivo dos amigos me fez entender que o meu registro diário
da pandemia merecia livro físico. Paralelo à escrita minimalista, escrevi um romance,
mas este é assunto para outro texto.
Voltemos à zumba, reconheço que sou muito
descoordenada. Para mim dançar é um desafio, por sorte o professor e os colegas
são ótimos, vou imitando aqui e ali e, a cada passo certo, eu vibro contida. Na
Zumba transpiro, troco energia boa, me vejo como uma lagartixa branca no espelho
e me divirto. E como o querido professor Lucas me disse: o mais importante
não é o que a zumba faz com o corpo, mas o que faz ela com a mente! No ano passado, queria ter terminado o ano com o passinho de samba aprendido e o romance concluído.
Precisei reconsiderar os dois. A versão final do romance foi feita em fevereiro
e o passinho de samba só agora em dezembro. A propósito: aceito convites para
roda de samba, mas não esperem muito, viu? Só o basiquinho e com muito esforço.
E falando em esforço, não pareço realizar nenhum ao nadar,
porque aprendi criança e me parece fácil. Não sou atleta ou nado todas as
modalidades. Nado devagar, as modalidades que aprendi e na água relaxo e crio
histórias, repenso a vida, viajo mesmo. Quando retornei
em setembro, encontrei a piscina vazia, aspirei o cloro (cheiro que amo desde que
o descobri), entrei na água e dei as primeiras braçadas em gratidão. Pensei que
faltavam alguns dias para publicar meu terceiro livro solo, acabava de publicar
Ventania com meu grupo de escrita como resultado de prêmio literário, meu
romance estava finalizado. Gratidão é a palavra. Ano difícil, mas eu estava
conseguindo voltar a conviver socialmente. E Minis de Quarentena teria lançamento
presencial ao ar livre com o selo da Editora Libertinagem, com a capa colorida da
Denise Gonçalves, estampando a minha esperança em dias melhores. E o Vai
passar! foi o que mais repeti nos autógrafos!
Voltando para a academia,
merece explicação o porquê da piscina estar vazia no meu retorno: faço nado livre
num horário maluco, perto do meio-dia, após a aula de zumba, e tenho a honra de
muitas vezes nadar sozinha. Me sinto rica, escolho a raia do meio e naquele
instante sou a dona do mundo. Na infância, quando aprendi a nadar, me imaginava
adulta, chegando do trabalho com a pasta de executiva, o cabelo preso, trocando
o tailleur azul claro pelo maiô preto de natação, colocando toca, óculos
e pulando na minha piscina olímpica aquecida. O estranho é que nos meus sonhos
infantis, nunca aparecia a minha casa, nem marido, nem filhos, nem cães ou
gatos, somente eu e a minha piscina. Criança vive num universo mágico, não
tinha a mínima conexão com o mundo real. Nem consigo me imaginar hoje de tailleur
azul claro, cabelo preso e numa piscina olímpica aquecida residencial e sozinha,
sem marido, filha, cão e/ou gato. Meu eu criança me faz rir!
E reencontro a menina que me habita quando, desde que
voltei a nadar em setembro, decidi não mais contar quantas piscinas faço, controlo
o tempo no relógio. Será que posso ficar mais hoje? Me faço a mesma pergunta que fazia para minha
mãe, quando os dedos murchavam no banho de mar, e ela me esperava, com a toalha aberta
na beira, gritando: Chega por hoje, Joselma!