Gosto de cozinhar, fazer
bolos e doces, inventar drinques, sucos e batidas. Mas não aprecio o ficar
horas na cozinha, costumo ser rápida e objetiva. Em quarenta minutos tudo deve
estar pronto. Para cumprir a meta do tempo curto, os utensílios domésticos são
essenciais e entre eles o liquidificador, usado para múltiplas receitas:
panqueca, molho de tomate, bolo de cenoura, mousse de maracujá, batida de banana,
piña colada.
Nunca pensei que o
eletrodoméstico fosse perigoso como uma arma. Após a declaração do atual ministro
da Casa Civil, me senti uma mãe negligente: nunca guardei liquidificador em
cofre.
Em 1970, a gurizada podia
brincar na rua sem medo. Vivíamos em um bairro residencial tranquilo na Zona Sul
de Porto Alegre e quando ainda não frequentávamos escola ou em período de
férias, fins de semana e feriados, passávamos, meus irmãos e eu, o dia inteiro
pela calçada até escurecer ou a mãe gritar os nossos nomes completos. Não havia
celular, computador e as horas dedicadas aos desenhos animados na televisão
eram poucas, porque a calçada sabia ser muito mais animada! Pega-pega, Esconde-esconde,
Polícia e Ladrão, As Panteras, Miss Brasil e Missa. As brincadeiras eram as
mais diversificadas e sempre tinha uma briga no final, porque os sentimentos
eram vividos de forma intensa.
Certa vez, nosso irmão
vestindo a farda de policial, invadiu a nossa casinha de brinquedo, atirando
com arma de espoleta. Cabe explicar que se tratava de um diminuto espaço de
madeira pintado de cor de rosa com janelas brancas, onde tinhamos confiscado
muitos pertences da cozinha de casa. Após levarmos muitos tiros, começamos a jogar
todos os objetos que estavam ao nosso alcance com força na cabeça da autoridade.
E assim quebramos o liquidificador novo da mãe, o que rendeu ferida grande na
cabeça do atirador e castigo para todos de uma semana. E, claro, fazia parte do
pacote, ouvir todas as noites, durante os sete dias, do pai e da mãe: sermões,
palestras, discursos (não sei bem como nomear) sobre paz, amizade e tolerância.
Sim, o ministro tem toda
a razão: liquidificadores e armas são igualmente perigosos. Mães e pais, por favor,
fiquem atentos!
Crônica 2 - Oficina de Verão Santa Sede - janeiro 2019
Crônica 2 - Oficina de Verão Santa Sede - janeiro 2019

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