quinta-feira, 7 de março de 2019

O PRESIDENTE BOLSONARO ODEIA O BRASIL?


         

       
 
Joselma Noal


            Ao que tudo indica sim, ele odeia o Brasil e os brasileiros! Do contrário, mostraria ao mundo o que nosso país tem de mais belo e representativo em termos de cultura popular. O Carnaval é o nosso grande atrativo turístico e tem razão de ser: é um espetáculo de música, cor, alegria e criticidade. Envolve multidões e traz alento a um povo sofrido e batalhador. Nós não somos vagabundos, Senhor Presidente!

            Patriotismo não significa cantar o hino nacional. Aliás, será que o presidente sabe cantar o hino? Pode até saber, mas duvido que entenda a letra!  Patriotismo é ter orgulho do seu país, do seu povo, de suas manifestações artísticas. Quando se ama, o desejo é de gritar ao mundo as qualidades do ser amado, não de colocar nas redes sociais seus defeitos. Então, o presidente perde tempo procurando vídeo pornográfico (porque deve ter procurado bastante) para difamar a nossa imagem diante do mundo, em lugar de exaltar o país que governa? Com tantos vídeos lindos sobre o nosso Carnaval ele escolhe espalhar uma imagem grosseira? Todos nós sabemos (exceto os da seita de ignorantes apoiadores do governo), que Bolsonaro, guri e moleque como tem demostrado ser, não gostou de ouvir seu nome clamado por multidões, acompanhado de insultos nesta festa brasileira. E resolveu se vingar, sim, feito guri, moleque.
            Com falta de decoro, educação, inteligência, postura, o presidente nos envergonha a cada dia um pouco mais, a cada gesto (a começar pela arminha usada na campanha) a cada palavra, a cada declaração, a cada pronunciamento, a cada fuga da imprensa... O presidente é um vexame vestido de gente, e mal vestido ainda, recordem o figurino a la Mazzaropi. Vergonha é o sentimento que me acompanha desde o resultado da eleição e segue cada vez mais forte.
            E nem vou escrever sobre a Lei Rouanet e a crítica a Daniela Mercury e a Caetano Veloso, porque a baiana musa da música brasileira se manifestou a respeito e foi bem didática. Não sei se Bolsonaro entendeu...
            Mas temos motivo para festejar: a Mangueira ganhou primeiro lugar, mostrando a história e os nossos verdadeiros heróis no desfile. E se o presidente nos envergonha, por sorte ainda temos do que nos orgulhar.

             Marielle Franco, Presente!

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

OLGA - UMA MULHER ADMIRÁVEL


  
          Em 26 de fevereiro de 1921 nasceu Olga Salomoni, ainda não era Bertaco. Em Bertaco transformou-se por amor a Luiz, jovem elegante, também filho de imigrantes italianos, com que se casou em 1939, na Igreja São José da Vila Nova.
                   Olga filha de Lúcia e João Salomoni. Do pai herdou o gosto pela arte: da ópera à literatura; da mãe: o talento na culinária.
Com Luiz construiu sua família, morando em Porto Alegre, no bairro Vila Nova, onde plantaram, colheram, compraram terrenos, fizeram amigos, tiveram filhos. Após um ano de casados veio a Janete; depois de seis anos, o Jainor e após três anos, a caçula Joecí.
Passaram-se os anos, os filhos casaram e nasceram os netos: Janilce, Josandra, Josiane, Joselma, Josângela, João Luís, Joselaine e Joe Luís.
Infelizmente nem todos os netos puderam conhecer Luiz, conviver com ele, mas sabemos de sua alegria e entusiasmo. Eu mesma, às vezes, repito frases ditas por ele, embora não recorde de tê-las ouvido, na verdade nem sei como era o timbre de sua voz. Agradeço à Olga por lembrá-lo sempre e fazer com que nós, os netos, pudéssemos conhecê-lo de alguma forma, através dela.
Da Olga sim todos poderíamos falar muito... Recordo da infância com torta bolacha e crostoli, do colo macio, dos raviolis, do incentivo para qualquer feito: para as viagens, para a compra do primeiro apartamento, para o comprimento da micro-saia, para a troca de emprego, ...
Dando continuidade à história de Olga, as netas cresceram e também tiveram suas filhas. Nasceram as bisnetas: Laura, Maria Eduarda, Júlia, Sophia, Juliana, Jordana e Clara. Sem dúvida esta é uma família de mulheres fortes, sangue herdado dos imigrantes. E esta força da mulher imigrante muito nos orgulha e tentaremos transmitir a esta nova geração feminina que tem a sorte de ter Olga como bisavó, esta gigante em amor, a quem hoje quero homenagear de uma forma muito especial.
Para mim Olga sempre foi e será muito mais que uma avó, grande amiga e companheira de viagem.  A pessoa mais doce, amável e generosa que já conheci. Olga é uma mulher admirável! Admirável pela forma como sempre conduziu sua vida, preocupada em unir a família aos domingos com chás inesquecíveis e bandejas sem fim. Tudo arrumado com primazia, cuidado e beleza.
Devo confessar que pertenço a uma família tradicional e vivi todos os momentos femininos ou ritos de passagem com orgulho e a Vó Olga esteve muito presente nestas datas: tricotou meu vestido de Primeira Comunhão (tinha esquecido de mencionar que é também minha madrinha de batismo), costurou o meu vestido de quinze anos e o de noiva. Em meu casamento estava tão nervosa quanto eu e ajeitava meu vestido a cada cinco minutos, em uma expressão de carinho memorável...
Felicidades a esta mulher admirável, que parece trufa recheada de encanto e alegria, a quem tenho a sorte de chamar de Vó.

Homenagem a Vó Olga lida no dia de sua festa de 80 anos e depois publicada em 28 de julho de 2006, Jornal Bom Dia, p. 6 em ocasião ao Dia da Vovó

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Guia para sobreviver em Forno Alegre:


Evite caminhar ao ar livre entre às nove e às dezenove horas, se necessário for, faça uso de desodorante e protetor solar. Escolha uma roupa em tom claro e de tecido leve. Saia munido de garrafa de água gelada. Procure sombra ao caminhar. No caso de usuário de transporte público, escolha ônibus com ar condicionado. Já em caso de cidadão motorizado, na ausência de ar condicionado, abra bem as janelas. Trate de fazer uma economia para adquirir um ar, que deixou de ser artigo de luxo, mas de necessidade básica. Lembre-se de procurar sombra na hora de estacionar.
 Em sua casa, se não há ar condicionado, muitos ventiladores devem ser ligados e vale o mesmo que para o automóvel: trate de adquirir um ar, inverter, por razões de economia e com os BTUs adequados ao espaço, se for necessário, pague em 12 parcelas.
 Na geladeira: frutas, verduras, tônica, jarra com chá ou com água saborizada para o dia, garrafas de cerveja e de espumante para a noite. No frezzer: vodka e polpas de frutas congeladas úteis para preparar drinques e sucos. Além, é óbvio do pote de sorvete, gênero indispensável, com sorvete dentro, claro, nada de feijão congelado! As formas de gelo devem ser sempre abastecidas pelo usuário responsável por retirar as últimas pedrinhas.
Aconselha-se ducha rápida ou banho prolongado várias vezes ao dia, conforme o tempo disponível. Se não tem piscina em casa, nem de plástico, atire-se na do condomínio, na do clube ou na da casa de algum parente ou amigo. Caso seja convidado, aceite imediatamente! Bar ao ar livre é excelente ideia para encontro com a turma. Evite ambiente fechado e não refrigerado.
Seja feliz, curta as fotos no Instagram da alta porcentagem dos amigos que está desfrutando da praia ou do frio europeu. Não se deixe derreter de inveja! Acredite: a cidade pode ser um Forno sem deixar de ser Alegre, basta você se refrescar com agradáveis companhias!

Joselma Noal

Crônica 3 - Oficina Santa Sede de Verão - janeiro de 2019

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Segredos de liquidificador

Gosto de cozinhar, fazer bolos e doces, inventar drinques, sucos e batidas. Mas não aprecio o ficar horas na cozinha, costumo ser rápida e objetiva. Em quarenta minutos tudo deve estar pronto. Para cumprir a meta do tempo curto, os utensílios domésticos são essenciais e entre eles o liquidificador, usado para múltiplas receitas: panqueca, molho de tomate, bolo de cenoura, mousse de maracujá, batida de banana, piña colada.
Nunca pensei que o eletrodoméstico fosse perigoso como uma arma. Após a declaração do atual ministro da Casa Civil, me senti uma mãe negligente: nunca guardei liquidificador em cofre.
Em 1970, a gurizada podia brincar na rua sem medo. Vivíamos em um bairro residencial tranquilo na Zona Sul de Porto Alegre e quando ainda não frequentávamos escola ou em período de férias, fins de semana e feriados, passávamos, meus irmãos e eu, o dia inteiro pela calçada até escurecer ou a mãe gritar os nossos nomes completos. Não havia celular, computador e as horas dedicadas aos desenhos animados na televisão eram poucas, porque a calçada sabia ser muito mais animada! Pega-pega, Esconde-esconde, Polícia e Ladrão, As Panteras, Miss Brasil e Missa. As brincadeiras eram as mais diversificadas e sempre tinha uma briga no final, porque os sentimentos eram vividos de forma intensa.
Certa vez, nosso irmão vestindo a farda de policial, invadiu a nossa casinha de brinquedo, atirando com arma de espoleta. Cabe explicar que se tratava de um diminuto espaço de madeira pintado de cor de rosa com janelas brancas, onde tinhamos confiscado muitos pertences da cozinha de casa. Após levarmos muitos tiros, começamos a jogar todos os objetos que estavam ao nosso alcance com força na cabeça da autoridade. E assim quebramos o liquidificador novo da mãe, o que rendeu ferida grande na cabeça do atirador e castigo para todos de uma semana. E, claro, fazia parte do pacote, ouvir todas as noites, durante os sete dias, do pai e da mãe: sermões, palestras, discursos (não sei bem como nomear) sobre paz, amizade e tolerância.
Sim, o ministro tem toda a razão: liquidificadores e armas são igualmente perigosos. Mães e pais, por favor, fiquem atentos!

Crônica 2 - Oficina de Verão Santa Sede - janeiro 2019

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

As lambidas de Richard Gere



Joana pediu demissão em uma segunda-feira de manhã. Era janeiro, temperatura em torno de 34 graus e sensação térmica de 38. Cansou do café de garrafa térmica da escola, da companhia dos falsos colegas, do despertar às 6h30min, do ônibus das 7h, dos alunos, dos pais, dos boletins, dos conselhos de classes, dos cadernos de chamada. Teve até festa de despedida no fim da tarde, salgadinho barato com Coca-cola. Nada mal, afinal ela nem esperava, ficou uma gota comovida e muitos litros aliviada de não precisar voltar na manhã seguinte para ouvir as repetidas palestras motivacionais de homem sem braço, sem perna, tocando instrumento musical, a conversa sobre a tal resiliência e blá, blá, blá.
De noite com as amigas brindou, com muitas cervejas geladas no Apolinário, à vida nova! No dia seguinte já começou a elaborar o material didático para o curso de ensino a distância. Grana boa para trabalho a ser realizado em casa. O prazo para o envio não a aborrecia, ao contrário: assim ela se organizaria melhor.
E tudo corria bem para Joana que vivia sem horário para despertar, para dormir, para comer, até o dia em que se encantou com o cachorrinho encontrado na vizinhança e resolveu adotá-lo. Os dias não eram mais tão livres, porque o animal exigia atenção, passeios, água, ração, banho, tosa, vacina, vermífugo, visita ao veterinário. Ufa! O cão dava bastante trabalho, muito mais que a elaboração dos materiais didáticos.
Joana foi se adaptando ao Richard Gere, o poddle peludo enchia sua vida de xixi e lambidas. Um dia caminhando pelo bairro com o cão encontrou o vizinho que tinha uma cadela de mesma raça. Entre conversas e sorrisos, combinaram a cruza do Richard Gere com a Lilica. Papo vai, papo vem, iniciaram namoro e sexo antes dos caninos.
Quando se deu conta, Joana já tinha horário para dormir, acordar, fazer as refeições, sem deixar de reservar espaço na agenda para o encontro mensal com as amigas, onde sempre havia um brinde à nova vida!

Joselma Noal

Crônica 1 – Oficina de Verão Santa Sede janeiro de 2019