Outro dia fiquei
triste, porque em uma discussão com amiga com quem tenho, ou tinha, muita
intimidade, ouvi que eu havia mudado. Fiquei incomodada e argumentei ser a
mesma de sempre. Depois de muito pensar a respeito, reconheço não ser a mesma
de sempre. Muito em mim mudou mesmo, é verdade!
Estou segura de que a
literatura transforma o sujeito, embora a escolha de leituras seja crucial para
o resultado de qualquer mudança. Sempre fui leitora, mas demorei a conhecer a
obra de autoras e autores negros. Ter lido Conceição Evaristo e Jeferson
Tenório, entre outros autores, foi fundamental para desenvolver a minha empatia.
Paralelo à leitura, contribuiu
também de modo significativo para o meu entendimento sobre o racismo, o fato de
ter ingressado, como docente, em uma universidade federal. Assumo que, até então,
não tinha percebido a importância das cotas raciais. Aprendi e aprendo muito
com todos os meus alunos e, principalmente, com os cotistas.
Antes do meu ingresso
na FURG, escrevi a favor das cotas sociais, contrária às cotas raciais. Na
ocasião, morava em cidade do interior do RS, atuava como docente em
universidade comunitária, o que não justifica minha postura naquele momento, só
demarca a minha ignorância. Deveria ter visto, mas não enxergava, a ausência de
negros no espaço acadêmico, não refletia sobre a nossa dívida histórica
escravagista. Nunca me havia julgado racista. O fato de ter amigos negros me
parecia argumento suficiente para tal afirmação, até perceber que eu não
enxergava era nada!
Escrevo para tentar
furar bolhas de brancos, classe média, que chamam de mimimi a dor do
outro, mencionam empatia em discursos, sem saber o real significado. Tenho
tentado fazer algo: lendo e indicando obras de autoria negra; assistindo e
indicando filmes e documentários sobre racismo. Deixo algumas sugestões:
entrevistas do Roda Viva, disponíveis no YouTube com: Djamila Ribeiro e Chimamanda
Ngozi Adichie; documentários da Netflix: AmarElo – É Tudo Pra Ontem e
Olhos que condenam. Não menos importante: tenho eliminado da minha
linguagem vocábulos racistas e piada preconceituosa não me causa mais graça
alguma. Sobre leituras, registro a lista do Jeferson Tenório em Seja um
leitor antirracista, publicada no jornal Zero Hora, em 10/06/2021: Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus; Americanah, de Chimamanda Adichie; Parem de nos Matar, de Cidinha da Silva; Pequeno Manual Antirracista, de Djamila Ribeiro; Marrom e Amarelo, de Paulo Scott; Cair de Costas, de Ronald Augusto; Um Buraco
com Meu Nome, de Jarid Arraes; Os Supridores, de José Falero; Menina de Tranças, de Lilian Rocha; Eu Vou Piorar, de Fernanda Bastos; Terra Estranha, de James Baldwin; O Olho Mais Azul, de Toni Morrison; Pequeno Espólio do Mal, de Luiz Mauricio Azevedo; Ponciá Vicêncio, de Conceição Evaristo; Terra nos
Cabelos, de Tônio Caetano; Torto Arado, de Itamar Vieira Junior. Acrescento à lista O
avesso da pele, de Jeferson Tenório, Cartas para a minha mãe, de Teresa Cárdenas, Aqui dentro, de Nathallia Protazio e Vozes de retratos íntimos da
Taiasmin Ohnmacht.
Finalizo destacando que, se vivêssemos em uma sociedade igualitária, não precisaríamos de cotas, nem
de palavra para nomear racismo, homofobia, machismo, feminicídio, mas enquanto
ainda moramos por aqui e desta forma, sejamos empáticos.
E, sim, eu mudei e
quero seguir mudando sempre! Estou aprendendo com o Raul Seixas a ser aquela
metamorfose ambulante! Sinto um alívio em não ter mais aquela velha opinião
formada sobre tudo!

Me identifico muito, Jo! Como diria Fromm, o amor (a empatia incluida) é um exercício que se precisa praticar cotidianamente.
ResponderExcluirParabéns pelo texto e pela postura.
Muito obrigada, Marcus! Sigamos acreditando na empatia e no amor! Abraços
ExcluirAdorei teu texto. Que mais mudanças aconteçam. Obrigada por compartilhar
ResponderExcluirFeliz em saber que adoraste. Abraços
ExcluirPerfeito Joselma. Para muitos ainda falta o entendimento de que "Ser" branco ou preto é na verdade (nesta vida) "Estar" branco ou preto.
ResponderExcluirMuito obrigada pela leitura e pelas palavras!
ExcluirExcelente texto. Temos que nos olhar desde dentro sobre esses temas, desde a nossa branquitude. Assumirmos o que ainda carregamos dentro de nós para transformarmos o menor vestígio de preconceito ou ignorância. Obrigada pelo seu texto, Joselma.
ResponderExcluirAgradeço a leitura!Fico muito feliz que tenhas gostado! Sim, importante lutar contra o preconceito que, muitas vezes, temos enraizado dentro de nós. Abraços
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