segunda-feira, 31 de março de 2014

PAÍS TUPINIQUIM E HIPÓCRITA

A polêmica advinda da pesquisa realizada no Brasil pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), e que apontou a roupa feminina como provocadora do estupro segundo 65% dos entrevistados, motivou este texto.
Diante da pergunta Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas?” 65% dos entrevistados concordaram, total ou parcialmente. E sobre: “Se as mulheres soubessem se comportar haveria menos estupros?”, 58,5%, também concordaram total ou parcialmente.
Absurdo, barbaridade, vergonha? Tenho dúvidas sobre como qualificar o resultado da pesquisa sobre o motivo que leva à violência sexual contra mulher: a roupa curta, ousada, sensual. A causa do estupro é a insanidade do sujeito! O estupro revela um ser doentio, que não sabe lidar com o próprio desejo, é um tipo descontrolado, incontido, agressivo.
O grande problema feminino é o terrível gesto de aprender a engolir a dor e o fato de muitas mulheres não denunciarem a violência sofrida. Nada há de culpa por parte da mulher que sofre à violência, há o medo de realizar a denúncia e a capacidade de silenciar a dor. O sexo frágil deve fazer-se ainda mais forte! Afinal somos o maior símbolo da força e já enfrentamos muito preconceito, muita humilhação.
Estranhamente o Brasil, que parece um país de gente de mente aberta, responde desta forma à pesquisa! Alguns culpam o IPEA pela formulação da pergunta que conduz a determinada resposta, mas não condeno a pergunta, julgo a resposta que é muito clara e assustadora. Julgar como culpada a vítima, é bizarro!
O Brasil esbanja hipocrisia, passamos uma imagem de povo pra frente pra vender turismo para o carnaval e para as praias com mulher bonita e com o corpo à mostra. Bundas brasileiras femininas vendem a imagem de nosso país. Somos mercadorias!

Perplexidade talvez seja o vocábulo mais adequado para descrever o meu sentimento ao saber do resultado declarado pela pesquisa. Perplexidade, porque nós não somos uma mercadoria e continuamos sendo tratadas deste modo, inclusive por outras mulheres, já que a pesquisa não foi dirigida somente ao sexo masculino. O que torna a realidade ainda mais dura e triste. E mais envergonhada fico ao ler que a imprensa francesa deu destaque à pesquisa brasileira, ou seja, nosso preconceito, nossa imagem de povo machista e retrógrado espalhado pelo mundo afora. Que adianta ser país da copa, continuamos sendo os mesmos tupiniquins e hipócritas!

sábado, 15 de março de 2014

Carta ao Prefeito de Rio Grande – Alexandre Lindenmeyer

Prezado Senhor, é com todo respeito que lhe dirijo esta carta pública e explico, primeiramente, porque a quis tornar pública, porque escrevo como porta-voz de um grupo bastante grande de moradores do bairro Cassino.
Considero importante que o senhor saiba um pouco sobre esta que lhe escreve, pois bem, farei uma breve apresentação.
Sou servidora pública, mais especificamente, professora concursada da FURG, porto-alegrense, mas morei sete anos em Erechim, antes de decidir morar em Rio Grande, ou melhor, no Cassino, onde estou com minha família desde 2010.
Sabe, vou ser sincera, quando fiz o concurso, no final de 2009, fiquei hospedada no centro de Rio Grande e não havia gostado da cidade, achei tudo muito sujo, mal cuidado, na verdade as construções antigas me pareceram tão belas e lamentei o seu péssimo estado de conservação, minha opinião a respeito, permanece a mesma.
No último dia do concurso, visitei o Cassino e desejei muito morar neste lugar, não sei o que vi, mas algo me comoveu ao caminhar na calçada em meio às árvores da Avenida Rio Grande e ao pisar na areia da maior praia do mundo. Consegui imaginar minha família vivendo em harmonia no Cassino. Acertei na escolha: meu marido e minha filha aprovaram o lugar por mim escolhido!
Ao chegar em 2010 o Cassino não era o mesmo que hoje vejo: o descuido, o descaso está por todos os lados, há buracos que mais parecem crateras, esgoto a céu aberto, muita sujeira espalhada por todos os lados. Agora está um nojo viver neste lugar! Lamentavelmente devo confessar que, após todo dia de chuva, sinto uma saudade gigante de Erechim, cidade limpa, cuidada, asfaltada. Sabe, escrevi uma ocasião elogiando a cidade de Erechim no jornal local, recebi até carta do prefeito comovido por uma cidadã porto-alegrense que via tantas coisas bacanas na sua cidade. Gostaria de poder fazer muitos elogios a sua administração e sua cidade também, mas no momento desculpe-me nada vejo para ser aplaudido, mas desejo muito redigir outro texto apontando as benfeitorias realizadas por sua gestão, principalmente no Cassino.
O senhor teve meu voto, faço questão de dizer, embora isto não faça nenhuma diferença sobre a sua responsabilidade na administração pública. Escrevo mais do que tudo para de lhe fazer um singelo convite: visite o Cassino, de preferência caminhe, pode ser de carro também, embora a pé seguramente lhe causará maior emoção, não precisa ser no dia da chuva, pode ser no dia seguinte e sinta a mesma vergonha que eu moradora. Meus hóspedes amigos e familiares demonstram estado de choque ao ver que não existe pavimentação nas vias públicas, a visualização do esgoto lhes causa um grande assombro. A falta de saneamento básico trata-se de um problema sério de saúde pública, pois a água da chuva mistura-se ao esgoto das residências, assim acarreta a contaminação do ambiente, além de expelir um odor insuportável. E eu morro de vergonha! Senhor prefeito, eu não gosto de sentir vergonha do lugar onde moro. Quero voltar a ter orgulho do Cassino! Considero este um local abençoado por Deus por suas belezas naturais e é triste perceber que quem deveria cuidá-lo, o ignora, o rejeita, o despreza! Desculpe-me a pergunta tão ousada: O senhor não tem vergonha? Um lugar que poderia ter tão turismo, hoje não apresenta atrativos, muito pelo contrário a situação atual é capaz de afugentar os visitantes.
Logo que comuniquei amigos e familiares da minha mudança para Rio Grande, todos ficaram entusiasmados, afinal naquele momento havia uma enxurrada de notícias sobre a cidade que mais crescia no sul do país, um dos maiores PIBs do nosso estado. No entanto, sinceramente, senhor prefeito, não sei onde há investimento! Espero que o senhor responda, não só a mim, exclusivamente, e sim a toda a população moradora da cidade de Rio Grande sobre suas ações realizadas e a realizar, pois lhe confiamos a administração deste lugar e temos o direito de saber como ele está sendo gerido. Espero transparência na gestão pública e mais do que isto responsabilidade e trabalho.