sexta-feira, 15 de abril de 2022

Sobre melão espanhol e afeto

 


Hoje quero olhar menos para o celular e mais para o céu. O estar sempre conectada tem me cansado. Quero disfrutar mais e fotografar menos, porque o desejo por registrar momentos e postar nas redes, faz com que deixemos de apreciar segundos preciosos. Pensei sobre isso outro dia, na celebração de formatura da minha sobrinha-afilhada, não sabia se fotografava, se olhava, se chorava. Fiz um pouco de cada.

Ouso dizer que muito de emoção na minha vida não fotografei, não postei, mas, com certeza, ficou guardado no fundo da memória e se transforma em história. No dia do beijo pensei em postar fotos, mas, além da preguiça de procurar, que reconheço pesou na decisão, também sei que muitos beijos e afetos estão somente dentro de mim. Assim optei por recorrer a minha escrita literária, fotografei páginas de meus livros e enviei beijos aos leitores, porque quero demostrar gratidão e carinho a quem me lê, acredita na minha palavra e se emociona comigo.

E os melhores momentos não cabem em uma foto, não cabem nas redes, são aqueles segundos que não podem e não devem ser desperdiçados, devem ser degustados, apreciados, sorvidos como aquela sede de virar o copo rápido até a última gota e finalizar com um sorriso de satisfação.

Ao cortar a minha fatia de melão espanhol no café da manhã de hoje, lembrei do meu pai. A última refeição que lhe servi, no hospital, foi um mingau de melão espanhol, que meu pai não gostava e eu sempre gostei. Ele sabia e me ofereceu, come, filha, é o melão que tu gosta! Lembro que eu ri: Pai, bem capaz! Quem tem que comer é tu, né? Olha como tá cheiroso, pai, eu sirvo pra ti! E fui servindo as colheradas, limpando com o guardanapo os cantinhos da boca como se ele fosse criança. Não fiz foto alguma do meu pai hospitalizado, porque era momento de intimidade e sempre o respeitei muito, mas sou capaz de rememorar com detalhes muitos momentos de afeto e cumplicidade, além desta cena relatada. Acredito que o olhar azul do meu pai segue me observando e zelando por mim, inclusive, enquanto degusto minha frutinha matinal favorita.

Mais céu, menos celular, vida doce, suculenta e cheirosa como melão espanhol para vocês!