Sou fã
do Almodóvar! Desde de que o conheci, acompanho a carreira. Minha paixão data
do final dos anos oitenta, quando ingressei no curso de Letras, e pode ser confirmada
em 2019, nos ciclos Almodóvar I e II, projeto de extensão do ILA/FURG,
coordenado por mim e pelo colega Wellington, igualmente entusiasta e conhecedor
da filmografia do diretor espanhol. Assistimos a quase todos os filmes com discussão
ao final. Penso que as tardes de cinema e pipoca fizeram a diferença na vida
dos estudantes e dos docentes. Das maravilhas que tenho a honra de ter construído
com o meu colega parceria dentro da universidade pública, os Ciclos foram, sem
dúvida, das experiências acadêmicas mais gratificantes da minha vida.
Eis
que anotei na agenda a estreia na Netflix do Madres paralelas e, apesar
de tantas pessoas estarem elogiando, achei decepcionante. Falta elemento
surpresa, profundidade no tratamento de temas atuais e relevantes, falta a
irreverência e a ousadia do diretor. Estão ali a maravilha do elenco, a paleta
de cores que amo (basta conferir com a capa do meu último livro), o figurino.
Os primeiros minutos de filme, me entusiasmaram, a relação entre as mulheres
mães solo no momento do parto, a sororidade, a relação mãe e filha e o pano de
fundo político. Achei que tudo seria perfeito, profundo e enlaçado. Porém, o filme
é previsível, trata de muitos temas significativos, promete muito e pouco entrega,
é superficial, pincela uma tela que merecia ser um quadro enorme.
Mas,
como de surpresas também é feita a vida, ontem fui assistir um filme, também disponível
na Netflix, recomendado por amigos, já sabia que iria gostar só pelo título: O
violino do meu pai. O elenco é primoroso, a atriz mirim é puro carisma. O
filme é repleto de elementos surpresa, de personagens profundos cujas histórias
vão sendo reveladas aos poucos. Nada sobra, nada falta, é perfeito e os diálogos
são tão lindos que parei para anotar no bloco de notas do celular, frases para carregar
para a vida: Todo mundo é uma melodia; Família é a composição mais linda
feita com notas diferentes.
Chorei litros, me emocionei
profundamente, porque fala de amor entre pai e filha, este laço tão precioso
que nada desune. Quem tem pai presente e amigo, sabe que nunca existirá
abandono, nem mesmo a morte desfaz o laço, desprende a conexão afetiva. Com
tantos homens que não assumem a paternidade, ver esta figura paternal no filme tão
comprometida e amorosa me encanta e me faz também ser grata pelo pai que tive.
Sempre digo que tenho
um critério bairrista para avaliar minhas emoções: o número de Bahs! pensados
ou exclamados em voz alta ao ler, escutar uma música, ao ouvir uma música ao vivo,
ver filme, quadro, paisagem (para citar alguns poucos exemplos: quando vi a
Cordilheiras dos Andes, quando pisei em Madrid, quando vi Saturno devorando
a su hijo, quando assisti no cinema As sufragistas, quando li Conceição
Evaristo, quando ouvi Yamandú Costa). Então perdi as contas dos meus Bahs!
ao longo do filme O violino do meu pai. Dou a minha nota máxima de
estrelinhas e corações.
Para
mim, o que fica marcado na alma depois de ter visto o filme, é o que sempre digo:
o amor e a arte tornam as pessoas melhores. Devemos nos nutrir de afetos e de
arte para seguir melhorando e aprendendo a ouvir a melodia do outro. O filme espanhol
me trouxe saudade de outras obras do Almodóvar, já o filme turco me trouxe saudade
do meu pai que não era músico, mas me ensinou como tocar a vida.